GT de Santa Catarina da Construção Nacional do Hip Hop se reúne com a FCC (Fundação Catarinense de Cultura) para ARTicular formalização do registro no estado.
Na última quarta-feira, 17 de julho de 2025, integrantes do Grupo de Trabalho catarinense da Construção Nacional do Hip Hop estiveram na sede da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), em Florianópolis, para uma reunião estratégica com a equipe técnica de patrimônio cultural da instituição. O encontro teve como pauta central os encaminhamentos necessários para que o movimento Hip Hop seja oficialmente reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do estado de Santa Catarina.
Durante a reunião, os técnicos da FCC destacaram a importância histórica e social do movimento, que há mais de quatro décadas atua como uma ferramenta de transformação cultural e política, sobretudo nas periferias urbanas. A equipe da Diretoria de Preservação do Patrimônio reforçou que o reconhecimento do Hip Hop como bem imaterial é um marco necessário para garantir políticas públicas voltadas à valorização, proteção e promoção das expressões que compõem essa cultura urbana.
O que significa ser Patrimônio Cultural Imaterial?
De acordo com a Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial da UNESCO (2003), ratificada pelo Brasil, o patrimônio imaterial refere-se às práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas — assim como os instrumentos, objetos e artefatos culturais associados — que as comunidades reconhecem como parte de seu patrimônio cultural.
No Brasil, o processo de reconhecimento é regido pelo Decreto nº 3.551/2000, que institui o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial, sob responsabilidade do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). A nível estadual, Santa Catarina segue uma legislação similar que permite o registro de bens imateriais através da FCC, por meio de processos que envolvem pesquisa, inventário, parecer técnico e deliberação do Conselho Estadual de Cultura.
Hip Hop como Patrimônio: um passo histórico
O movimento Hip Hop, composto por seus quatro elementos fundadores — MC, DJ, Break e Graffiti — e um quinto elemento, o conhecimento, é hoje um dos maiores fenômenos culturais da contemporaneidade. Reconhecê-lo como patrimônio imaterial é reconhecer que ele não é apenas arte, mas um modo de existência, resistência e educação popular.
Esse processo já começou em âmbito nacional: em 2023, o Ministério da Cultura iniciou as tratativas para o registro nacional do Hip Hop como patrimônio imaterial. Em alguns estados, como o Rio Grande do Sul e São Paulo, iniciativas locais já resultaram em leis de reconhecimento ou processos de registro iniciados. Agora, Santa Catarina avança nesse mesmo caminho.
Reconhecimento é reparação
Para os integrantes do GT, o reconhecimento do Hip Hop como Patrimônio Cultural Imaterial é um ato de reparação histórica. “O Hip Hop educa, protege, denuncia, acolhe e inspira. Ele salvou e salva vidas todos os dias. Não estamos pedindo um favor. Estamos exigindo o reconhecimento de uma história que é viva, potente e negra”, afirmou Preto Lauffer, um dos ARTiculadores presentes na reunião.
O grupo também destacou que, embora o Hip Hop seja frequentemente marginalizado ou estigmatizado, é nas suas rimas, nos seus muros, nos seus giros e batidas que pulsa a memória e a luta de comunidades que constroem cultura de forma legítima e orgânica.
Próximos passos e mobilização popular
Nos próximos meses, serão realizados encontros regionais em diferentes cidades do estado para mapear os fazedores e fazedoras de Hip Hop, registrar suas histórias e práticas e fortalecer a mobilização coletiva. A expectativa é que o processo de elaboração do dossiê seja concluído ainda em 2025, com a formalização do pedido de registro junto ao Conselho Estadual de Cultura.
O GT reforça que toda a comunidade pode — e deve — pARTicipar. “O reconhecimento do Hip Hop como patrimônio não é só simbólico. Ele pode garantir políticas públicas de fomento, proteção legal, incentivos para ações formativas e valorização dos agentes culturais periféricos”, destacou Vinícius Billy, outro integrante do grupo.
Para saber mais e participar
O GT catarinense da Construção Nacional do Hip Hop está em fase de articulação com movimentos culturais, universidades e instituições públicas. Interessados em colaborar podem entrar em contato pelas redes sociais do GT ou acompanhar os próximos anúncios de escutas públicas e formações.