Na intimidade: Rap no Movimento entrevista o Rapper DoGhetto. A rima das ruas do Quintino para o Mundo!

Niasa: Salve meu mano, muito prazer trocar essa ideia contigo. Embora você já é bastante conhecido principalmente no estado de São Paulo e Minas. Se apresenta aí pra geral. Por que o nome “DoGhetto”?
DoGhetto: Salve meus Manos e Manas, Prazer enorme em trocar essa ideias com vocês do Rap no Movimento, Sou o Tiago Rodrigues Avelar conhecido como DoGhetto, nascido em Ribeirão Preto, interior do Estado de São Paulo, tenho 42 Anos e estou no Rap desde 1998 aos meus 16 anos, quando fiz a minha primeira apresentação em publico.

Antes disso eu tinha um grupo de Dança, era locutor em uma Rádio Comunitária Chamada Pointer FM e organizava festas de Brincas de Garagem. Gravei meu primeiro álbum intitulado “Pra Quem Não Acreditou” no ano 2000 com o Grupo A Firma Mc’s, logo após o lançamento desse trabalho, fomos convidados a participar da coletânea Abracadabra em um projeto nacional, então descobrimos que já existia um grupo homônimo e decidimos mudar o nome do nosso grupo para Do Ghetto.

E assim saímos na coletânea Abracadabra com a Faixa “4 Elementos” e uma Participação na faixa 1 “A Introdução”, logo depois desse trabalho o Grupo se desfaz então eu herdei o nome Do Ghetto e juntei as duas Palavras DoGhetto e comecei a Trabalhar na Rádio Comunitária Periferia Norte FM.

Em meados de 2002 entrei para o Grupo Relato da Periferia, ao lado de Dj Eazy, (depois Dj Jacksom) Preto Cee e Don Marco ficando até o Ano de 2006 quando eu mudo para o Grupo Código de Ideias que estou até os dias atuais, no qual Gravamos o Album “O Bom e Velho Rap Nacional” (2016) e a Participação na Coletânea Abracadabra 20 Anos com a Música “O Crime Recrutou Mais um”. Tive Participações marcantes no Dvd do Grupo Consciência x Atual na Lendária Música “Recanto Obscuro de uma Existência” e no Álbum “Obra de Arte”.

Atualmente venho desenvolvendo alguns trabalhos solos e participações como no Acústico do Nego Lê e Dj Yzak, com o Grupo Império dz6, meu Álbum Solo “1% de Chance, 100% de Esperança”, desenvolvo Palestras e Trocas de Ideias na Fundação Casa e com engajamento em ações do Dia das Crianças, Semana do Hip Hop de Ribeirão Preto, ações de final de ano para as Crianças e algumas outras ações nas periferias.

Niasa: O Tiago DoGhetto é ou foi um morador da comunidade, da favela, é de família pobre?
DoGhetto: Sou Nascido e criado em um Bairro de Cohab chamado Quintino Facci II, na Periferia de Ribeirão Preto SP, quando nasci as ruas ainda não eram asfaltadas, cresci em uma casa de 5 cômodos com mais 4 irmãos, meus Pais e meu Avô, casa com Vermelhão no Chão e sem laje, quando chovia tinha goteira na casa toda e no frio era muito frio mesmo, mas mesmo assim eu acho que tive uma vida até confortável, não precisava mais que isso.

A maior parte do tempo se dividia entre escola e rua, meu Pai trabalhava como vendedor e minha mãe Verdureira e dona de casa, que volta e meia estava vendendo alguns produtos como Avon e afins. Meu Avô fazia Jogo do Bicho (que minha Mãe faz até hoje) então a casa estava sempre com pessoas transitando por ali. O Bairro era uma bairro pobre, porém com muitas crianças, então sempre tinha colegas pra brincar na rua mas também sempre teve muitas tretas e Guerra que até acabava sendo normal de vivenciar.

Niasa: A molecada da periferia sempre tem algo pra contar, vivenciou algo até de risco. Você passou por alguma parada dessa?
DoGhetto: Risco era Corriqueiro, passava todos os dias praticamente e as vezes não percebia a gravidade. O complexo era tomado por uma guerra territorial, bairros contra bairros, adolescentes se matavam só por morarem em bairros opostos. Como eu morava no Quintino e trabalhava na Rádio no Simioni, eu tinha que correr esse risco, e por varias vezes fui abordado por caras armados me questionando por morar no Quintino e estar no Simioni. Mas na hora sempre tinha alguém que me conhecia do Rap pra pular na frente e apaziguar ou eu desenrolava trocando ideia.

Tinha uma linha de ônibus que cruzava os três bairros em guerra. Uma certa vez estávamos atrasados para o Hip Hop 1ª Classe e pegamos o Higienópolis Subindo, era um domingo, pegamos no Quintino e ele subiu para o Avelino onde pararam o ônibus e subiram todos armados, ai tivemos que explicar que estávamos indo para o evento de Rap que éramos todos de boa e tal, bem tenso, liberaram a gente e o ônibus seguiu. No Simioni tentaram parar o ônibus também, mas nessa altura fizemos o motorista passar reto e não parar porque ele passaria no Quintino novamente e os caras estavam lá olhando pra ver se não tinha ninguém do outro Bairro.

Era muito foda e sem nexo tudo aquilo pra mim que trabalhava pela paz e via toda aquela violência gratuita, amigos andando armados até na escola, na rua, no futebol, mas Deus me livrou do mal, em uma música minha (Um Homem de Lei) eu conto também do dia que colocaram uma doze na cara de um amigo de infância, moleque bom, só jogava bola e soltava pipa, acho que a doze ‘tava’ descarregada ou não era a hora dele, foi por Deus.

Niasa: Já perdeu amigos para o crime, treta ou violência policial?
DoGhetto: Sim, tenho uma lista grande, alguns realmente se envolveram, outros inocentes, mas todos bem Jovens, 16, 17, 18 anos… É triste de lembrar, ver as Mães sem brilho, sem vontade de viver, sinceramente é muito triste de relembrar, posso citar vários nomes aqui, amigos que foram criados juntos, amigos que foram importantes no meu processo da vida, colegas que em algum momento tivemos aproximação. São várias histórias, poxa, até hoje não entendo porque, mais de vinte com certeza, sei lá, não quero fazer uma lista, talvez seria mexer em um passado doloroso pra muitas famílias.

Pra você ver como as histórias se cruzam, vou lembrar de algo que aconteceu um pouco mais recente, quando eu lancei o Álbum com o Código de Ideias, em uma música que eu escrevi eu fiz uma homenagem a um grande amigo que morreu assassinado e que não tinha nada a ver com a guerra, ai eu entreguei um CD pra irmãzinha dele que acho que era muito pequena quando ele morreu ou nem era nascida e disse qual era a música em questão, passado uns dias eu reencontrei ela e ela me disse que a Mãe dela chorou quando ouviu a música e me agradeceu de coração achou muito linda a homenagem.

Só que quando depois escutou as outras músicas, disse que tinha uma música , que falava o nome do assassino do seu filho e que também morreu assassinado tempos depois e isso foi um impacto grande pra ela, ou seja, era muito pessoas conhecidos dos dois lados se matando, realmente dói de lembrar.

Niasa: Realmente muito triste essas paradas meu mano. Você teve dificuldade nos estudos? Teve que ‘trampar’ logo cedo? Se formou? Fez alguma faculdade?
DoGhetto: Eu sempre gostei da Escola rsrs, nunca tive dificuldades nesse ponto, nunca reprovei, mas sim, tinha que conciliar com trabalho informal, eu desde pequeno me virei pra ganhar uns trocado, vendia picolé com carrinho pra cima e pra baixo e assim consegui comprar a minha primeira bicicleta.

Me lembro até hoje a cor e de qual amigo eu comprei, também fiz faculdade e Pós-Graduação, trabalhando de dia e estudando de noite, pois eu já tinha a consciência que eu só iria conseguir algo se tivesse estudo, porque pra periférico cantor de Rap não seria fácil as portas se abrirem, então eu corri atrás, fiz cursos em finais de semana de Orientação para o Crédito do Sebrae, curso de Radialista, de Politicas para a juventude e tudo mais, sempre fui atras de informação e formação.

Niasa: Como foi o primeiro contato com o rap, a primeira música que você ouviu?
DoGhetto: Me lembro de sempre gostar desse ritmo e das ideias, me lembro de ouvir o Rap da Abolição dos Metralhas, Hey Boy do Racionais e querer aprender a cantar, Quando veio Fim de Semana no Parque ensaiava os passinhos pra colocar e dançar nas brincas.

Niasa: O que ou quem te influenciou a entrar para o rap? Quando vc sacou, vou ser um rapper?
DoGhetto: A vontade de cantar eu acho que foi com Recanto Obscuro de uma Existência do Consciência x Atual, porque compramos o CD pra colocar nas brincas e tal e um dia o DJ Yzak passou na Rua de bicicleta com a mesma camisa que estava na capa do CD, ai foi massa, é que ali tivemos aquela sensação de que sim, era possível, pois não era só no rádio ou na televisão ou nas revistas, tinha um cara ali, de Caloi Ceci passando na nossa frente que a música dele tocava na radio, nas nossas brincas, nos carros, nas festas e tudo mais, foi quando deu o start mesmo, também teve um Grupo do Bairro, o Arsenal de Ideias, era uma Família e eu acompanhava eles nos coretos das praças de Ribeirão Preto, eles também foram inspiração pra mim, época muito boa.

Niasa: Qual foi a primeira música que você escreveu, como foi?
DoGhetto: “A Proposta” foi a primeira musica que escrevi, comecei a escrever na escola e os amigos incentivaram, quando terminei fui mostrar para o pessoal do Arsenal de Ideias que me deram a maior moral, me deram o maior incentivo pra continuar, eu me sentia o maior letrista de Rap rsrsr, galera muito boa.

Niasa: Muito bom. E cantar, colocar voz? você teve dificuldade? O que você ouvia antes do rap?
DoGhetto: Eu ouvia muito Black Music, Flash Back e músicas românticas, na verdade ouvia tudo que tocava nas rádios ne, não tinha toca cds em casa e discos só tinha os sertanejos do meu Pai. Eu não tinha recursos para adquirir, mas tinha uma galera na esquina de casa que montava roda de Break, eu encostava
pra ver e ali também era novo pra mim, as batidas, as músicas, mas eu lembro pouco das músicas porque eu ficava mesmo era fascinado com o ritmo e as danças nessa época.

Era tudo muito novo, inclusive eu, mas eu sempre fui de dançar, então eu sempre tive ritmo e sempre gostei muito de música, sou um autodidata na música. Tenho boa percepção auditiva, sempre gostei de cantar desde pequeno, inclusive chegando a participar de um programa de calouros com 8 ou 9 anos cantando um samba. Então quando comecei a cantar Rap e a Gravar, foi muito natural, meu primeiro produtor foi o Próprio Dj Yzak, consegui o contato do Studio que o Consciência x Atual gravou na época, no próprio encarte do CD deles, e lá produzi meu primeiro CD, então foi um pouco mais fácil e tranquilo pois sabia que estava em ótimas mãos.

Niasa: Você participou de alguns grupos de rap de Ribeirão Preto, como foi essas passagens?
DoGhetto: Em todos com muito aprendizado, primeiro com o “A Firma Mc’s” éramos todos da mesma idade praticamente e amigos da mesma rua, não tínhamos muito conhecimento mas tínhamos muita vontade, fizemos festas e rifas para levantar grana para gravar o CD e esse processo todo foi muito proveitoso e de muita evolução.

Me trouxe muito conhecimento, como Artista e como Pessoa, ali eu também estava me descobrindo e norteando e algumas portas foram abertas. Principalmente pelo convite de fazer parte do Abracadabra, depois eu entrei para o Grupo Relato da Periferia que tinham acabado de gravar e lançar o Álbum “O Contra Ataque” cheio de sucessos.

Um grupo que meus olhos brilhavam de vê-los, os caras realmente eram muito bons, e com o Relato eu rodei bem pelos 4 cantos,
grandes eventos, cadeia e tudo mais. Aprendi muito também com todos eles, Principalmente com o Dj Eazy (Ronaldo Perez) um cara fora de série, depois disso entrei para o Código de Ideias que estou até hoje, e também já participamos de grandes eventos e festivais, sou um cara muito grato pela minha trajetória, tenho que mencionar também o grupo Consciência x Atual no qual eu nunca fiz parte mas sempre estive junto em várias oportunidades e viagens pelo Brasil a fora.

Niasa: Você teve o apoio da família no rap? Eles curtem rap?
DoGhetto: Hoje tá mais tranquilo, mas nunca tive apoio, mas também nunca encontrei nenhuma barreira na Família. Não converso muito com eles sobre, irmãos, Pais, Tios e Tias, primos, nunca teve muita troca a respeito, mas sempre me respeitaram muito. Acho que isso já é um apoio, mas sinceramente nesse ponto eu acho que sempre teve uma distancia, a Família é mais tradicional do interior, curte mais um sertanejo Raiz e Samba, eu também nunca fui de colocar minhas musicas
pra tocar nas festas de família, então foi isso. Já a minha esposa sim, sempre me apoiou, quando estávamos no começo de namoro, lá em 2006, ela ia nos ensaios do C.D.I e gravava com seu celular, tem alguns registros desses ensaios que hoje fazem sucesso nas redes sociais.

Niasa: DoGhetto, é bastante comum a gente saber da história de grandes rappers com envolvimento no crime e prisões. Como foi a sua vida? Se envolveu?
DoGhetto: Envolvimento é uma palavra que soa pejorativa, será que estar junto é se envolver? É complicado porque, por onde andei e com quem andei, tenho certeza que se um dia eu morrer assassinado, mesmo que por engano, vão dizer que eu sempre fui envolvido, só por cantar Rap eu já carrego isso, eu desde pequeno frequentei igreja, adquiri alguns princípios e alguns traumas também, participei de alguns grupos de jovens e tudo mais, mas acreditem, nas piores fazes da minha vida eu tive um melhor acolhimento com o pessoal da rua do que com o pessoal da igreja.

Hoje não frequento mais igrejas já há alguns bons anos rs, mas com certeza eu nunca fui um criminoso, nunca quis roubar ou atrasar a vida de alguém para adiantar a minha. Talvez tive alguns problemas leves, mas nada que me complicasse com a justiça do homem, eu sempre procurei ser um cara bom e fazer o bem, mesmo acreditando que todos os seres humanos tem os dois lados dentro de si, o bom e o ruim, o bem e o mal, e cada um trabalha e expressa esses sentimentos da sua forma no decorrer de sua existência, mas eu procurei desde cedo ser um cara para levar luz e acender a luz de pessoas, passar o mapa dos caminhos bons que eu aprendi a diante.

Niasa: Mano, muita gente julga a cor, quando ouve um rap, principalmente o estilo gangster, já pensa em um rapper negro, você é branco, como foi pra você entrar nesse mundo, que de certa forma é fechado, ou isso já mudou?
DoGhetto: Eu nunca tive problemas quanto a isso e nem acho que exista esse problema, o Rap é sim uma cultura Negra na qual eu sempre fui apaixonado, mas eu procuro falar de temas que eu vivi ou vivo, então eu não falo sobre racismo em minhas letras por eu não estar no meu lugar de fala, mas eu apoio quem fala, quem luta e quem defende a causa/vida então sempre que posso eu reverbero as vozes necessárias e absolutas contra o Racismo.

Niasa: Não sei se virou moda, ou é apenas trampo paralelo, mas diversos artistas estão lançando carreira solo, mas continuam com seu projeto original, como é o caso do Racionais Mcs, do Consciência Humana e outros. Como foi para o DoGhetto, tomar essa decisão?
DoGhetto: Tranquilo, eu sempre tive grupo e fui muito comprometido com o grupo como continuo sendo, no meu caso era um desejo antigo de lançar algo solo, o grupo envolve duas ou mais pessoas com vivencias e experiencias diferente, então eu sempre quis fazer algo um pouco mais intimo, algo completamente eu. Sempre quis trazer essa bagagem minha para um trabalho individual, com narrativas mais próprias e fazer apenas do meu jeito, uma forma também de autoconhecimento, e contar um pouco dessa minha história.

Colocar mais as minhas ideais em pratica, abordar mais temas, enfim, foi bem tranquilo e natural, o Código de Ideias nunca parou ou interrompeu a caminhada, foi um trabalho paralelo que eu sempre tive vontade mesmo.

Niasa: Eu ouvi seu disco solo “Dias de Luta 1% de chance, 100% de esperança”, muito fod@, curti, parabéns. Como foi a idealização desse projeto, a escolha das músicas? Os convidados? Que por sinal, só artistas de peso.
DoGhetto: Obrigado! Como eu disse, esse projeto já era uma vontade antiga que eu tinha, eu sempre gostei do lance de regravar artistas antigos e pude fazer isso com o Filosofia de Rua. Ainda tenho como meta regravar outros artistas, mas sobre o Álbum, foi feito em etapas, primeiro foram os processos de escolhas de instrumentais juntamente com meu produtor desse álbum, o Jhef.

Buscamos diferenciar um pouco nas sonoridades e temas, para somente depois eu escrever as letras e decidir os convidados, pois o resultado teria que ter um pouco da cara de cada convidado em suas respectivas musicas. Foi a primeira vez que fiz dessa forma, e gostei muito do resultado final, todas as participações ficaram muito boas e com o seu momento, nenhuma voz ou ideia ofuscou a outra.

No final, foi bom pra ambas as partes e todos saíram satisfeitos, todas as participações são de artistas que fizeram parte da minha trajetória e que tive a honra de ter cruzado o caminho nas estradas da vida do Rap, monstros que eu tenho gratidão em ter tido essa experiência e dispensam apresentações como Wgi, Crônica Mendes, Filosofia de Rua, Jhef e o Mestre Rafa Santoro, teve também a Participação da Karollen Siano (Fernanda Siano) que é cantora Sertaneja, realmente convidados de muito peso. Fiquei muito honrado e satisfeito com o resultado desse meu 1° Álbum Solo. Agradeço a Deus por essa realização, pois também aprendi muito durante esse processo.

Niasa: O Rapper DoGhetto é casado? A música “Patybull” é dedicada a alguém?
DoGhetto: Sim, sou casado com a Patybull (Patricia Garcia de Oliveira Avelar), e essa música foi sim feita com muito carinho para minha esposa, Patybull é um apelido carinhoso que meu cunhado colocou na irmã em um momento de descontração em família, e eu peguei na hora pois achei que descrevia muito ela, então eu resolvi fazer essa pequena homenagem, pois como eu disse, esse Álbum solo é um trabalho um pouco intimo que fala muito sobre a vida do Rapper DoGhetto e como estamos juntos desde de 2006, um pedaço dessa história está eternizado nessa música.

Nos casamos em 2017 quando eu subi as escadarias do casamento com a instrumental de Vida Loka part2 e o vídeo viralizou, foi bacana também, depois usei o vídeo real do casamento para fazer a Lyric vídeo da música Patybull que está disponível no YouTube no canal do DoGhetto Oficial e quem sabe estará também no canal do Rap no Movimento né rs, tá liberado pra vocês colocarem também rs.

Niasa: Depois dessa já vamos criar nosso canal no Youtube. Mas a galera pode ouvir esse som aqui no Perfil DoGhetto em nosso site mesmo. Meu mano, dessas 15 músicas do álbum, teve aquela que você terminou de escrever e pensou, essa é loca, ficou do caralho?
DoGhetto: Praticamente todas, até hoje ouço o CD e fico muito satisfeito com o resultado final, tenho muito orgulho e não consigo escolher apenas uma pois cada uma conta um pouquinho da minha história, talvez, Reza a Lenda, Eu Quero é Mais, Um Homem de Lei, O Homem da Casa… é que de forma Lírica eu descrevi um pouco da minha vida e existência, então todas fazem parte, realmente é o conjunto da obra.

Niasa: Vi nas redes sociais que você foi para os Estados Unidos lançar seu trampo, como foi?
DoGhetto: Uma experiência única, é muito bom poder viajar e conhecer outras culturas, fiquei no Brooklin, a entrada da casa era tipo a do Todo Mundo Odeia o Chris, lá eu pude ter contato com alguns rappers, não famosos, mas que estão lá no Berço do Rap, na Raiz. Conheci algumas barbearias e muitos pontos turísticos como a famosa Ponte de Brooklyn que o liga a Manhattan, assisti a um Jogão da NBA no Madison Square Garden, sensacional.

E claro Lancei uma Lyric Vídeo do Clássico do Filosofia de Rua na qual eu tive o prazer de regravar com a benção e participação do próprio grupo, estou falando de Histórias do Coração, uma letra do Dj Man que fez sucesso na década de 90 e faz até hoje, eu pude regravar com a Participação deles (Dj Man, Big Ugli Ci in Memorian e Canhoto) e do meu mano Jhef, é a música 09 do CD, foi muito gratificante, fiz o lançamento da Times Square, era um desejo meu levar esse som para o Mundo Todo porque é uma música que me trás muitas lembranças afetivas boas e ruins, mas que fazem parte da minha formação, infelizmente eu sempre fui um artista independente, é tudo na raça e com pouca grana, mas esse sonho eu consegui realizar, eu tinha essa dívida com esse clássico, com esse hino do nosso Rap Nacional.

Niasa: Gravar um álbum independente, é muito dificultoso? Ou consegue parcerias, ajuda de empresas?
DoGhetto: Pra mim sempre foi muito dificultoso, eu nunca tive parcerias, mas parece que hoje as coisas estão mudando, talvez por conta daqueles “Meninos Loucos e Sonhadores” da minha juventude que se tornaram homens adultos e hoje acreditam e gostam do rap. As pessoas tem se interessado mais, algumas portas estão se abrindo, mas a minha realidade é diferente de outros grandes artistas talvez, no interior do estado as coisas parecem que sempre são um pouco mais difíceis, um pouco mais demoradas né.

Mesmo Ribeirão Preto sendo um grande polo Artístico e Cultural, talvez criar e gravar não seja tão difícil hoje pra mim, mas fazer a música “andar” e ecoar, pra um artista independente é quase impossível, mas na verdade eu sempre coloquei em minha mente que sozinho eu não conseguiria fazer minhas músicas chegar para milhões de pessoas, mas se chegasse em dez e mudasse a vida de uma já valeria a pena.

E Graças a Deus deu muito certo, recebi ótimos relatos e feedbacks principalmente desse meu último trabalho na qual pessoas me disseram que mudou de vida, que minha música ajudou e que hoje enxergam a vida de outra forma, isso me deixa muito feliz e realizado, porque é exatamente nisso que eu acredito, nesse poder da música e das palavras. Por isso que com todas as dificuldades eu nunca parei, fui sim as vezes um pouco devagar, mas sempre sabendo aonde eu precisava chegar e hoje eu só tenho a agradecer pelos frutos plantados e colhidos, sou muito Grato por tudo, e sinceramente valeu a pena.

Niasa: Nos dias de hoje, com a tecnologia, internet, ficou mais fácil gravar uma música ou um álbum?
DoGhetto: Com certeza ficou, hoje temos muito mais produtores do que há 10 anos atrás por exemplo, mas o problema é que com a alta quantidade de produtores também vem a falta de qualidade de muitas musicas produzidas, pois muitos investem na tecnologia e não sobra tempo ou dinheiro para investir na capacitação, isso não é uma critica aos mais novos não, não é sobre isso, mas em um contexto geral é o que vejo.

Tenho acompanhado muitas coisas novas sobre produção, algumas muito boas e outras muito ruins e esses são os dois lados da moeda, mas como artista que depende do produtor, eu gosto muito dessa alta de produtores pois tenho sim opções e com certeza ficou mais fácil gravar, o que também a internet trouxe de comodidade foi a busca por referencias musicais e instrumentais, que eram muito difíceis lá atrás, tínhamos que comprar discos e cds, ou tentar gravar algo bom nas k7, era sim muito mais difícil, então em um contexto geral está sim um pouco mais fácil gravar um Álbum.

Niasa: Em uma música você menciona algo sobre depressão, ansiedade. Sabemos que o mundo está doente, principalmente pós pandemia. Você viveu isso com pessoas próxima?
DoGhetto: Eu mesmo tenho ansiedade leve diagnosticada, mas sim, eu perdi um irmão mais novo que tirou a própria vida, ele iria completar 24 anos e eu 27 anos. No ano do ocorrido, essa é uma forma muito triste de perder um ente querido e também muito difícil de entender, só pedindo força a Deus mesmo porque é um baque para a família toda e ao mesmo tempo tem um certo tabu sobre o assunto, porque dói e machuca falar sobre depois que acontece o pior. Perdi dois bons amigos também da mesma forma e as vezes eles só querem um pouco de atenção, só querem um bom amigo, então eu mudei muito meu modo de ver a doença, não só em minhas músicas, mas no dia a dia, na família, no trabalho, nas redes sociais, então dentro de minhas missões em vida esse assunto faz parte, e venho obtendo bons resultados.

É meio que a minha Religião, o que preciso e quero fazer, a melhor coisa do mundo pra mim é de alguma forma contribuir com alguém para se curar dessa doença e ver com o tempo essa pessoa boa, prosperando, constituindo família e deixando de ser solitária, mas não solitária de pessoas ao redor, solitária de si mesma, é um assunto muito difícil de explicar ou falar, porque é algo muito intimo meu, na verdade é um assunto que eu nem gosto de ler ou estudar sobre, porque eu não acho que isso se explica, isso é algo que se sente, que se encontra e que se vive. Já a doença é tratada com a ajuda de profissionais mas nem todos tem acesso ou tempo de ter o diagnóstico.

Niasa: O artista DoGhetto é ligado a política, vive uma causa, ou se posiciona mais neutro?
DoGhetto: A Minha vida é um ato politico e sempre foi, pra mim tudo nessa vida envolve sim a politica, nesses últimos anos ficou claro que até empatia por exemplo é um sentimento politico, a igreja é movida ou manipulada por políticos, então como um Rapper que começou nos anos 90 não seja politico? Digo mais, como e posiciona do lado do opressor? Não tempo como!

Alguns dizem que os Rappers se venderam e blá blá blá, o Rap começou como ato politico negro e pobre, sempre a favor do povo menos favorecido ou que nunca foram favorecidos, então você pega as ideologias dos candidatos das ultimas eleições e vê quais ideologias mais favorece os pobres e quais defende o extermínio dos Pobres. Aí fica fácil saber de qual lado eu sempre estive e lutei, hoje tenho 42 Anos, luto desde os meus 16, me dói quando um familiar ou conhecido vem defender o lado de lá, o lado de quem é contra nós mesmo, costumo dizer que ainda sim tem muitos peixinhos de aquário com a síndrome do tubarão.

Pobres que defendem os direitos dos ricos contra os próprios pobres, então não só o Artista DoGhetto, mas o amigo, sobrinho, colega… o Tiago Rodrigues Avelar sempre se posicionou e sempre irá se posicionar nos palcos ou no dia a dia porque dedicou e dedica a sua vida pelo bem dos seus, que todos possam ter comida, diversão e dignidade, isso não é utopia como nos fazem acreditar que seja. É possível sim todos se alimentarem bem, viajarem, terem celulares e comerem a porra da picanha que se tornou figurativo mas sabemos do que se trata, então eu sempre vou me posicionar e aqueles que forem contra é inimigo sim, pois é a minha luta contra a luta deles, se eles se posicionam é porque lutam por algo, então, finalizando a pergunta, Eu Vivo a Causa!

Niasa: O que você está ouvindo hoje?
DoGhetto: Sou eclético, é mais fácil eu responder o que eu não ouço rs, mas vamos lá, eu ouço muito MPB, Rock e Groove, uns Flash Back Românticos, Rap e Reggae, é o que eu gosto de ouvir, mas eu sou um cara que está sempre rodeado de pessoas, então eu acabo ouvindo de tudo, não gosto muito de ficar comandando o som, porque sempre esperam que eu coloque as minhas musicas pra tocar e eu não coloco, quem quiser ouvir que procure e escute, sou um cara tranquilo nesse aspecto. Vou muito em festivais como o Festival da Lua Cheia, encontro das Tribos, João Rock e acabo conhecendo muita coisas novas também, mas em casa depende muito do meus estado emocional ou do meu estado de espirito, porque realmente eu gosto muito de sentir e me alimentar da música, então vai muito do momento.

Niasa: Sobre o rap atual, o trap, funk, você tem alguma crítica?
DoGhetto: Sinceramente eu não tenho muito o que falar, consumo pouco, mas se eu pudesse falar algo é: “Deixa os moleques trabalharem do jeito deles”. Eu me lembro de que quando eu comecei com o Rap eu recebia várias criticas e zoações. As pessoas não me levavam a sério, mas eu tinha uma causa e sabia que iria dar certo, e deu, eu não tive apoio de ninguém, somente de quem cantava Rap também, de quem fazia parte do movimento, o restante me criticavam porque não me entendiam e assim eu me criei.

Nunca me apresentei a outras pessoas como artista, porque me fizeram acreditar que eu não era um artista, que o Rap não era musica, hoje eu entendo melhor o que acontecia, a discriminação e preconceito que eu sofria, e eu não quero isso pra quem está vindo agora, não quero que passem pelo que passei nesse sentido, seja no Trap, no Funk ou em outro estilo, só deixem eles fazerem, talvez a gente não entende a luta, o movimento, mas é uma galera jovem tentando fazer algo, então eu não tenho muito o que falar não, mas tem uma galera muito grande também que gosta.

Niasa: Ah, recentemente você fez uma participação na música “Mais uma vez Aqui” com o grupo “Império DZ6” como foi esse trampo?
DoGhetto: O Império DZ6 é um Grupo aqui de Ribeirão Preto que eu gosto muito, os caras realmente são muito bons, e eu já tinha trabalhado no Relato da Periferia com o Don Marco que é um dos vocalistas e sou amigo também do Edinho, então quando surgiu o convite eu sinceramente fiquei muito feliz e empolgado, pude relembrar uma boa época da minha vida cantando ao lado do Don e de cara eu gostei muito do projeto. Então foi um trampo muito prazeroso de fazer, está disponível nas mídias sociais, quem puder ir lá conferir, ficou muito F#d@ mesmo, ideia mil grau, produção da hora e uma junção de respeito!

Niasa: O seu grupo “Código de Ideias” tem algo desenhado vindo por aí?
DoGhetto: Tem sim, estamos com alguns projetos, algumas participações saindo, tanto minha quanto do Willian CDI, temos também uma coletânea pra sair em breve e estamos já resenhando músicas novas, então em breve estará vindo coisas boas por ai.

Niasa: O que os fãs podem esperar o Rapper Doghetto?
DoGhetto: Essa semana está saindo uma participação no Acústico dos monstros Nêgo Lê e DJ Yzak, em um Clássico pra ficar pra história, tenho também algumas participações em andamento, projeto com o Código de Ideias, parcerias com o Império DZ6, parceria com a Two:Am Streetwear que vai lançar a marca DoGhetto em Bonés, Camisetas, Moletons e alguns souvenirs, e alguns trampos solos também, muitas coisas boas estão acontecendo, estou em um momento muito feliz e quando a gente trabalha feliz rende bons frutos.

Niasa: Fiquei sabendo que você está pagando de artista global (risos) como é essa parada aí DoGhetto?
DoGhetto: Na verdade, igual eu disse, Ribeirão Preto é um Polo Artístico e Cultural, por exemplo temos um filme de terror, “O Mal Nosso” que está disponível na Netflix, foi gravado em Ribeirão Preto por uma empresa daqui com artistas daqui, inclusive uma estudou comigo em uma Escola Estadual, esse filme já rodou o mundo inteiro e ganhou vários prêmios.

Eu fui convidado para participar como figurante no filme “Divórcio” foi um dia inteiro de gravação para aparecer alguns segundinhos rsrs, mas foi um grande aprendizado. O filme contou com Murilo Benicio, Camila Morgado, Sabrina Sato, Marcia Cabrita, Cynthia Falabela e outros no elenco, foi uma experiencia e tanto, o filme já passou até na Sessão da Tarde e também está disponível na Netflix e Globoplay, esse filme foi gravado aqui em Ribeirão Preto também, talvez por isso eu tive essa oportunidade, gostaria de ter tido outras, mas por enquanto ficou somente nessa mesmo.

Niasa: Mano, curti esse papo, só aprendizado! Bora pra um bate bola rapidão?
DoGhetto: opa, vamos lá!

Niasa: Um grupo?
DoGhetto: Consciência x Atual

Niasa: Um Rapper?
DoGhetto: Mano Brown

Niasa: Uma música?
DoGhetto: Recanto Obscuro de uma Existência e Vida Loka parte 2

Niasa: Uma música sua?
DoGhetto: Um Homem de Lei

Niasa: Meu mano, valeu pela troca, deixe aí suas considerações, como quiser.
DoGhetto: Obrigado a vocês do Portal Rap no Movimento por essa consideração e pela oportunidade, gostei muito do convite, obrigado a todos que chegaram até aqui conosco nesse amigável bate papo, espero que tenham gostado e me conhecido um pouco mais, no site tem alguns dos meus trabalhos aqui mencionado, corram lá e vão conferir, só tenho a agradecer a todos pelo carinho e companhia, bora pra luta, Gratidão.

Aí, esse foi o rapper DoGhetto, um mano que a gente considera muito. E você, curtiu? Comenta aí abaixo. Tem alguma pergunta, faz aí que o DoGhetto responde.

E fala pra gente, qual artista do rap nacional você quer ver aqui no próximo “Rap no Movimento Entrevista”.

Siga: @rapnomovimento

6 comentários em “Na intimidade: Rap no Movimento entrevista o Rapper DoGhetto. A rima das ruas do Quintino para o Mundo!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *