CAPS não é meme: saúde mental é coisa séria

Centros de Atenção Psicossocial são pilares da saúde pública no Brasil e precisam ser valorizados diante do estigma e da desinformação.

Nas redes sociais, a frase “vou pro CAPS” tem circulado em tom de piada ou meme. Mas, por trás da ironia, está um serviço de saúde pública fundamental para milhares de brasileiros: os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Criados pela Reforma Psiquiátrica e regulamentados pela Lei 10.216/2001, os CAPS representam uma virada de chave no tratamento da saúde mental no país, substituindo o antigo modelo manicomial por um cuidado comunitário, inclusivo e humanizado.

Atualmente, existem diferentes modalidades de CAPS — do CAPS I ao CAPS III, passando pelo CAPSi (infantil) e CAPS AD (álcool e drogas). Todos oferecem acolhimento, acompanhamento clínico, oficinas terapêuticas, grupos, atendimento familiar e ações de reinserção social. Mais de 2.700 unidades estão espalhadas pelo Brasil, segundo o Ministério da Saúde, compondo a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). Em muitas cidades, são a única porta de entrada para quem precisa de acompanhamento especializado.

A relevância é incontornável: dados da Organização Mundial da Saúde indicam que 96% dos casos de suicídio estão relacionados a transtornos mentais diagnosticáveis. No Brasil, o suicídio é a quarta principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. O CAPS, portanto, não pode ser reduzido a uma piada: é um espaço de escuta, acolhimento e, muitas vezes, de sobrevivência.

No entanto, a banalização do CAPS como meme expõe o preconceito ainda existente em torno da saúde mental. Procurar ajuda psicológica ou psiquiátrica continua a ser estigmatizado, como se fosse sinal de fraqueza. Essa lógica precisa ser desconstruída. Precisamos normalizar o cuidado e valorizar o CAPS como um verdadeiro patrimônio social e de saúde pública.

Manter e fortalecer os CAPS é também uma questão política. Diante dos cortes de orçamento e da sobrecarga das equipas, torna-se urgente garantir financiamento adequado e melhores condições de trabalho para os profissionais que sustentam essa rede.

Afirmar que “CAPS não é meme” é mais do que um slogan: é um apelo coletivo. É lembrar que, por trás da sigla, existem histórias de vida, famílias e comunidades que dependem desses serviços para continuar a existir com dignidade.

Publicar esta reflexão aqui no RAP NO MOVIMENTO é dar voz a um tema que dialoga diretamente com a cultura, a juventude e os territórios periféricos. A mesma cena urbana que pulsa em rimas, batidas e poesia é a que também enfrenta, diariamente, os desafios da saúde mental. O CAPS, nesse sentido, não é apenas um serviço de saúde: é um espaço que pode transformar trajetórias, resgatar autoestima e oferecer alternativas diante de um sistema que muitas vezes marginaliza. Ao aproximar o debate da saúde mental com a linguagem e a vivência do RAP, ampliamos a consciência coletiva e fortalecemos a luta contra o estigma.

A minha coluna no RAP NO MOVIMENTO nasce com essa missão: informar sem romantizar, provocar sem agredir e, acima de tudo, cultivar senso crítico. Porque conhecimento não pode ser luxo, e sim ferramenta de transformação. Cada matéria escrita aqui carrega a intenção de abrir caminhos, de questionar certezas e de lembrar que pensar é também um ato de resistência. Se o RAP é a voz das ruas, esta coluna é um espaço para que essa voz encontre novas formas de ecoar: conscientes, firmes e transformadoras.

A peça em destaque foi bordada especialmente para esta matéria pela artista @umpontocaos

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