MC Cabelinho no Bial: quando o microfone da favela vira ameaça para o sistema

Nesta quinta-feira (5), MC Cabelinho esteve no programa Conversa com Bial e, mais uma vez, não decepcionou. Com a firmeza de quem carrega nas costas o peso de uma comunidade inteira, o artista falou de cara limpa sobre o que muitos tentam fingir que não existe: a perseguição institucional contra o funk, o RAP e a cultura preta periférica.

Bial trouxe à mesa o infame projeto de lei “Anti-Oruam”, aquele que tenta barrar com canetada a contratação de artistas que supostamente fazem “apologia ao crime”. A resposta de Cabelinho foi cirúrgica: “Essa lei tem cor, gênero e classe social.” E é claro que tem. Porque ninguém propõe proibir novela que romantiza tráfico ou filme de ação estrelado por bandido branco engravatado.

Cabelinho ainda soltou uma das frases mais impactantes da entrevista e deve ser tatuada no coração de todo artista periférico:
“Não vou deixar de cantar minha realidade só porque você quer. Se você quer que eu não cante o que eu canto, muda minha realidade.”

É isso. Quer censurar o verso? Então muda a Favela. Quer calar o MC? Então tira o fuzil da mão da PM, melhora o saneamento, investe em escola, cultura, saúde, arte. Porque enquanto existir opressão, vai ter poesia — com ou sem patrocínio.

Na mesma entrevista, ele lembrou da contradição absurda que o sistema insiste em normalizar: “Eu atuei numa novela das nove como traficante e era considerado arte. Mas quando um funkeiro canta a realidade, vira apologia ao crime.” A diferença? A cor da pele e o CEP de quem conta a história. Quando o favelado toma a palavra, o incômodo é imediato.

Quem define o que é arte e o que é apologia? Quem nunca pisou na Favela, quem nunca ouviu um disparo de verdade, quem sempre esteve do lado de quem aponta o dedo. O que essa elite teme não é a letra — é a força de quem transforma dor em discurso.

Um detalhe visual que não passou despercebido na entrevista foi a camiseta usada por MC Cabelinho, estampada com a pergunta: “Por que sempre eu?”. Mais do que uma peça de roupa, a frase carrega o peso de uma vivência coletiva — o questionamento constante de quem é alvo do Estado, da mídia e da elite, simplesmente por existir enquanto preto e favelado. Em meio ao debate sobre censura e criminalização da arte periférica, a escolha da camiseta funcionou como mais um grito silencioso de resistência, uma provocação direta ao sistema que insiste em apontar o dedo para os de sempre.

Enquanto tentarem criminalizar o canto da favela, vai ter Preto Lauffer escrevendo, MC Cabelinho cantando e uma geração inteira rimando contra o silêncio imposto.

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