Mesmo após o encerramento das inscrições do Prêmio Mulheres no Hip-Hop, no dia 20 de julho de 2025, a importância e o impacto dessa política pública merecem destaque e contínua defesa. Trata-se de uma ação afirmativa com potencial transformador que vai além de um período de inscrição — é um marco na luta pela equidade cultural e pelo reconhecimento das mulheres nas artes urbanas.
O edital, lançado pelo Ministério das Mulheres no início do mês, destinou R$ 3 milhões para premiar 65 iniciativas culturais lideradas por mulheres cis, trans e travestis. Embora o prazo de participação tenha se encerrado, o legado dessa iniciativa permanece. É uma referência concreta do que o Estado pode e deve fazer para garantir acesso, visibilidade e investimento nas produções culturais periféricas e femininas.
Mais do que um apoio pontual, o Prêmio Mulheres no Hip-Hop representa um gesto político de reparação histórica. Em um país marcado por profundas desigualdades sociais, onde mulheres negras e periféricas enfrentam múltiplas exclusões, essa política pública atua como ferramenta de justiça social. O Hip-Hop, enquanto movimento cultural e político, já cumpre esse papel nas comunidades — mas quando o poder público reconhece e investe nesse potencial, amplia-se o alcance e fortalece-se o impacto.
A cultura é um direito constitucional. No entanto, por muito tempo, políticas culturais privilegiaram segmentos elitizados, ignorando expressões como o rap, o graffiti, o break e o DJ. Essas linguagens urbanas, por sua origem popular, muitas vezes foram marginalizadas. O edital do Ministério das Mulheres rompe com essa lógica e aponta para um novo horizonte: um Estado que compreende a cultura como ferramenta de emancipação e transformação.
Não se pode falar de Hip-Hop feminino no Brasil sem citar nomes como Dina Di, Negra Li, Damas do RAP, Sharylaine, Kmila CDD, Cris SNJ, e Janaína do Palavra Feminina. Essas artistas pavimentaram o caminho para uma nova geração de mulheres que usa a música, a dança, o graffiti e a palavra falada como ferramentas de denúncia e afirmação. Suas trajetórias, marcadas por resistência, talento e protagonismo, são provas vivas da importância de políticas públicas que valorizem e sustentem essas expressões.
Mesmo com o prazo encerrado, é fundamental defender a continuidade e ampliação de iniciativas como esta. Políticas públicas de fomento à cultura precisam se tornar estruturantes, com editais regulares, permanentes e descentralizados. É necessário garantir formação, circulação e sustentabilidade para as produções culturais feitas por e para mulheres nas periferias.
A participação popular na formulação dessas políticas também é essencial. O próprio lançamento do edital foi resultado de articulações coletivas, audiências, encontros e lutas históricas do movimento Hip-Hop feminino. Isso mostra que a cultura é também um espaço de disputa política e de construção democrática.
Que o Prêmio Mulheres no Hip-Hop sirva como inspiração para outras esferas do poder público — municipal, estadual e federal — e que seja replicado em diversas regiões do país. Que se torne modelo de inclusão, reconhecimento e valorização das artistas que atuam nos territórios com criatividade, resistência e ousadia.
Defender essas políticas públicas é lutar pelo direito à voz, à memória e à representatividade. É afirmar que cultura feita por mulheres importa, transforma e merece ser política de Estado.
Muito bem colocado!! ✨