Mariquinha em Cores: Da Dor à Arte, do Silêncio ao Protagonismo no Coração de Floripa
No coração de Florianópolis (SC), pulsa uma das comunidades mais antigas e resilientes da Ilha: o Morro da Mariquinha. Muito além dos estigmas, muito além das manchetes que só sabiam falar de violência, a Mariquinha está a reescrever sua própria história. E o livro Rosa da Mariquinha. Uma outra história de Favela é testemunho vivo dessa virada.
De um passado marcado por chacinas que estamparam as capas dos jornais — algumas das mais brutais da história de Santa Catarina —, o morro hoje respira outro ar. Passamos do morro das tragédias para uma das maiores galerias de arte a céu aberto do estado. Uma mudança que não apaga as dores, mas as transforma em expressão, resistência e beleza.
O livro denuncia o apagamento histórico das vivências periféricas e destaca o “Turismo de Favela” como uma ferramenta de luta, identidade e reconstrução coletiva. Aqui, o turismo não é sobre exotizar a pobreza. É sobre mostrar a riqueza cultural que sempre existiu, mas foi sistematicamente ignorada.
No Rolê da Mariquinha, as ruas falam. Os muros contam histórias. A arte urbana grita sem elevar a voz. Ela é firme. Ela é orgulhosa. Ela é a própria favela dizendo: “Estamos aqui, e temos muito a ensinar.” As cores que cobrem a comunidade resgatam memórias, empoderam identidades e projetam novos futuros.
Especialmente as mulheres da comunidade — muitas vezes as verdadeiras guardiãs da história local — brilham neste novo cenário. Seja no artesanato, na culinária ou nas lutas cotidianas, elas continuam a embelezar e dar sabor à vida na Mariquinha.
Essa galeria de arte a céu aberto não é apenas uma atração. É um manifesto. Um novo tipo de ocupação: estética, simbólica, cultural. É a favela a ocupar a cidade com sua própria voz, desmontando estereótipos, construindo pontes, cultivando pertencimento.
Porque enquanto houver tinta, verso e muro, haverá favela viva.
Favela que resiste. Favela que reinventa. Favela que transforma.