Uma reflexão sobre o legado de Malcolm X, o impacto da sua luta pelos direitos civis e a relevância do seu pensamento no século XXI.
19 de maio de 2025, o mundo celebrou o centenário de nascimento de Malcolm X — um dos maiores ícones da luta antirracista do século XX. Nascido Malcolm Little, em Omaha, Nebraska, em 1925, ele se tornou mundialmente conhecido por sua postura combativa, sua oratória afiada e seu compromisso inabalável com a libertação do povo negro. Cem anos depois, sua voz ainda ecoa nos becos das periferias, nas letras de RAP, nas rodas de conversa sobre política e nos movimentos que resistem.
Filho de um pastor que foi assassinado por supremacistas brancos, Malcolm conheceu cedo o peso do racismo estrutural. Passou pela prisão, onde encontrou nas ideias da Nação do Islã uma nova perspectiva de mundo. Tornou-se rapidamente um dos principais porta-vozes do movimento, defendendo a autodefesa, o orgulho negro e a autonomia frente à violência e exclusão imposta pelo Estado branco.
Ao contrário da narrativa pasteurizada que costuma endeusar apenas figuras conciliadoras da história, como Martin Luther King Jr., Malcolm foi o símbolo da urgência e da revolta. Enquanto King dizia “I have a dream”, Malcolm retrucava: “Eu tenho um pesadelo”. Ele sabia que a América não era um sonho interrompido, mas uma estrutura construída sobre o sangue de africanos escravizados.
Sua radicalidade era profundamente enraizada na realidade. Quando dizia que os negros norte-americanos não eram cidadãos, mas vítimas de um regime colonial interno, ele estava escancarando o apartheid disfarçado de democracia. Quando rompe com a Nação do Islã e funda a Organização da Unidade Afro-Americana, Malcolm dá um salto político: passa a enxergar a luta do povo negro como parte de uma guerra global contra o imperialismo.
Morto aos 39 anos, alvejado por 21 tiros em plena luz do dia, Malcolm X vive. Vive nos discursos inflamados dos jovens que não aceitam mais morrer aos 18. Vive no graffiti que denuncia genocídio, na educação popular que forma consciências, nas rimas que carregam o peso de uma história não contada.
Para o movimento Hip Hop, Malcolm sempre foi bússola e faísca. Public Enemy estampou sua imagem nas capas de disco. Tupac Shakur o citava como influência direta. Racionais MC’s e Sabotage o invocaram em suas narrativas periféricas. Seu centenário é também um chamado à reflexão: o que temos feito com o legado de Malcolm?
Celebrar os 100 anos de Malcolm X não é colocar flores sobre uma memória: é empunhar sua coragem como faca afiada. É lembrar que nossa luta não é por inclusão num sistema falido, mas por reconstrução radical. Que nossos inimigos não mudaram tanto quanto gostariam de fingir. Que, ainda hoje, seguimos sendo os “Malcolm’s” de nossos tempos: inquietos, incômodos, necessários.
E que, como ele mesmo disse: “Se você não estiver pronto para morrer por ela, tire a palavra ‘liberdade’ do seu vocabulário.”